segunda-feira, 10 de novembro de 2014

Desilusão

Morreu lá mesmo na praça, os braços recolhidos, as mãos sobrepostas, um pouco torta. As folhas caídas sobre o busto e os insetinhos sobre a face úmida de um lacrimejar que ainda não parou desde que capitulara. Que sofrida a mocinha! Essa mocidade tão velha... O corpo jaz sobre o chão de madeira, continuará até então, ninguém ousa perturbar seu eterno sofrer, seu eterno lamento e ciúme. Mortificada. Foi numa tarde qualquer, de um ano qualquer, de uma semana qualquer, que ao lado de seu caro admirado, foi suspirando devagar até todo o ar dos alvéolos de seus pulmões sair e jamais adentrar novamente. Aos poucos o sangue não mais circulava e a face enrubecida se mostrava amarelada e fria sob o Sol. Apesar dos raios do meio dia, sua dor não se permitia aquecer; sem espanto ou comentário as pessoas passarão, sem sequer notar ou olhar para a morta. Pobrezinha! Existiu apenas. Ninguém deu falta, ela se esforçou mas continua ali, morta somente. O autor deseja ainda que ela simplesmente se levante.

Sem comentários:

Enviar um comentário